Sou católico, e dizê-lo de antemão é bem significativo; presumo que todo e qualquer católico, mesmo que inconscientemente o faça, ainda que um ignorante nos conceitos, pressuponha, depois da Criação, adequada cosmovisão de mundo, pautada no Criador. As coisas e o mundo têm ordem; mesmo as que estão corrompidas têm ordem análogo a células não necessariamente morrerem por uma infecção viral. E como exprimiria aquele que é lógico exclusivamente neste blog, "quem cria é porque cria conforme sua razão e/ou conforme o que pensa, se Deus criou tudo conforme Sua razão e/ou conforme o que pensa, então tudo que criou é conforme Sua razão e/ou conforme o que pensa". Logo, sinto muito homem do acaso como princípio ordenador e ordeiro (rs, rs, rs; nem tanto); eis a ordem presente na realidade a que me refiro enquanto católico, e já chega de aquelas hipóteses mirabolantes como as do multiverso para ampliação dos recursos escassos e possibilidade maior das coisas serem como são. Requer mais fé ainda.
Agora, quanto ao título: o prazer não ficaria de fora dessa ordem segundo a qual criou-se tudo.
Presumindo que as coisas têm certa ordem, o prazer dos atos deve ser vivido nessa ordem das coisas, na qual ele está presente não como um fim em si mesmo senão como acidente contingente que mais serve de motivação. Motivação para que se viva não o ato desordenado, pondo o prazer como fim do ato praticado de fato prazeroso, mas para que se viva esse ato em sua verdadeira finalidade cognoscível e causa final. É motivação sem a qual não faríamos efetivamente nada das nossas vidas, pois, sendo prazer sensação, e a sensação prazerosa motivação: quem comeria sem sentir que precisa comer e sobretudo sem o prazer de comer? Quem copularia sem sentir efetiva vontade a partir do prazer sensual e sensorial de fazê-lo? ora, pensaria no bebê e vida resultante disso, para o qual o sexo é causa inicial clara? Isso fica subentendido por uma razão. O cabra nem chegaria perto de mulher se antes visse outro problema que não fosse a sensualidade de sua mulher e desejo de unir-se a ela e satisfazê-la. Ninguém é uma máquina programada certinho por certinho a partir de algoritmos; e nem deve assim ser. Somos vivos de corpo e espírito, mas tendo os atos cada qual respetivas finalidades, pressupõe-se antes causas (razão) do que o prazer (emoção); devemos antes aquiescer sob as circunstâncias tais quais guardiões de nossas almas, sob domínio da razão e não de nossas emoções, e gostar e felicitar-nos com as finalidades ao respeitá-las (e que sejam boas tanto quanto seus meios), enquanto o prazer nos será mnemônico de lembrança, tanto do que fizemos quanto da causa última pela qual o fizemos. Inclusive, para Platão... eis o "verdadeiro governante de si"; aquele que, ouso dizer, mesmo que encarcerado e urinando num penico, pode ser livre, verdadeiramente livre, inda mais aquele que não está preso pelas mãos e braços.
Como católicos que somos, devemos, mesmo que virtualmente (e isso é em suma o máximo a que chegaremos em vida, neste plano, em respeito à virtude; não é atoa o nome), obedecer a ordem das coisas em ato. Mesmo que desviemos muitas vezes do caminho, Deus paciente espera-nos; e continuará esperando-nos até que este mundo por fim desemboque na eternidade.