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Então em quem mais?

Recentemente escrevi, em espécie de carta, a quem precisava, e que muito parecia duvidar quanto a "confiar em uma entidade" da que se não gosta, por antes ter medo a amar, é evidente que, nesses termos, de todo não poderia mesmo; fi-la redigir com o intuito de convencer essa pessoa a amar a Deus, gostar e portanto confiar n'Ele, no mesmo amor que antes tivera o próprio Deus por ela, e não só por ela... Se não n'Ele, então em quem mais? Acho que possa ser proveitoso a futuras conversões num futuro breve e previsível, e progressivamente tanto mais às que vierem vindo. É porquanto que, qual Boa Nova, partilho-a. "Esta foi dada a mim de graça, e eu a dou de graça", já o dizia São Paulo, o Apóstolo.

Abraão foi levado por Deus ao monte Moriá, para que sacrificasse em amor e reverência a Deus o seu maior bem, maior bem que no momento possuía, e que havia possuído durante toda a sua vida, seu legítimo e amado filho Isaac, entregando-o ao mesmo Deus que, embora fosse quem tivesse dado a Abraão tal filho, agora parecia estranhamente pedi-lo; tendo Deus provado a vontade de Abraão e seu amor, tanto por Ele, Deus, em primeiro, quanto por seu filho, por cuja pesarosa decisão de assim oferecê-lo, assim imagino, receasse ao passo que pedia forças ao próprio Deus para consumar o suplício, este mesmo Deus enfim o impediu que imolasse o filho: o que parecia porém um teste ao Patriarca, era também prelúdio ao que viria muitíssimos anos à frente. De mesmo modo, Deus, Deus-Pai, entregava para ser esbofeteado, zombado, flagelado, crucificado e enfim imolado, el-rei Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus-Filho, Seu único filho e maior preciosidade, tal como Abraão certo que o faria com Isaac, por amor a Deus. Ele sendo Deus e não Abraão, permite o que faria Abraão com Isaac, só que por amor à humanidade, só que com o Seu filho dessa vez, que é igualmente Deus, e que é entregue em holocausto por Seu pai, enfim imolado por e pela humanidade no lugar de Isaac, no lugar de Abraão, ou no lugar de qualquer outro que seria indigno para nos remir os pecados, nem qualquer outra criatura. Deus assim fez por aqueles que outrora elegeu como "povo escolhido" e que ora negam, ora matam, a Seu precioso filho, também por aqueles pagãos que, além de ofender Ele, Deus, numa insistente reverência a Sua obra e não a Ele, criador dela, e igualmente por todos, passado, presente e porvir. O preço pela nossa redenção é um Deus morto, isto é fato; é por meio do Cristo crucificado que podemos retornar, num plano redentor, à pátria celeste, porque, já nos primórdios, mesmo Adão, depois de caridosamente expulsá-lo do Paraíso para que não acabasse de comer da árvore da vida e para sempre vivesse desgraçadamente com a mancha do pecado, Deus já lhe prometia Salvação, a oeste do Éden, e a todo o gênero humano a que representasse porventura Adão. Feito tudo isso, eu te pergunto, amigo, Ele não te amou? Ele não nos amou? nós por quem Ele entregou Sua única e unigênita preciosidade, isto é, para que, igualmente filhos, por vezes desobedientes como Adão, por vezes hipócritas, ingratos e mal-agradecidos como os Fariseus, pródigos como quem é o Filho Pródigo, mesmo existindo demais perversidades a que possamos ainda alcançar, pudéssemos enfim retornar aos braços do Pai, nosso criador, redentor e salvador. Ele não nos amou?

Ora, gente assim, além de confiança, é digníssima de face por terra por quem observa, e ter beijado os seus pés; claro-claro, fui hiperbolicamente sarcástico, mas nunca falso. Deus não procura glórias ou vangloriar-Se por nos ter salvo, isso não condiz nadica com a altura de sua "prova de amor", cuja grandeza "maior não há" ou que pode ser superada, porque sempre será a mesmíssima mesma, única e imutável: amor.

Eu vi que estavas com aperto quanto a "gostar de uma entidade que não confio", porém é tanto mais difícil do que isso: é preciso antes amar a Deus, como Ele nos amou a nos entregar o próprio filho, gratuitamente, sem esperar nada em troca, salvo, igualmente, amor nosso. Porque, antes vejamos, qual seria o interesse de um Deus todo-poderoso em nos salvar, senão por nos amar — sem esperar —, correndo o risco de deliberadamente o rejeitarmos através de nossa livre-vontade? Mesmo tendo Ele a presciência, Deus deixa-nos à vontade para que escolhamos como bem entendermos. Como os fariseus de fato o fizeram: escolheram não a Deus; como tu fazes ou está prestes. Pessoalmente, eu mesmo já muito O havia rejeitado antes de ser enfim libertado por Ele e seu amor... Quando pensamos em Sua infinita grandeza, o que temos, escória que somos, a oferecer à'Quele cujo nome é Todo-Poderoso, depois de nos ter salvado? Não confiamos n'Esse, que nos sacrificou o próprio filho para que pudéssemos voltar ao Lar, em o Filho que se deixou sacrificar entendendo e acatando o divino plano do Pai, um plano de amor...; não confiamos n'Esse, então em quem mais?..., em quem verdadeiro havemos de confiar? "Ninguém tem amor maior do que este: o de dar a vida pelos amigos" (S. João 15:13); se em qualquer um que isso nos faça confiaremos, tendo Deus feito o que nos fez através de seu filho amado, que resposta Lhe devemos dar? senão o da fé, amor e portanto confiança, como o bom filho que agracia e honra os pais. 

Eu admito: não sou um bom apologeta. Posso não te ter convencido nadinha, no pior te ter confundido, possivelmente ou com esse meu jeito meio intrincado de escrever, divagações excessivas e por isso mesmo em maior dispensáveis, ou por ser ruim de argumento mesmo; mas é fato que escrevi de coração, te querendo persuadir para o bem. Com efeito, espero no mínimo te ter despertado um pouquinho desse amor gratuito que tem o Pai, a cuja palavra nas Escrituras nos revela, e cuja Tradição elucida, só que agora de ti para com Ele, já Ele te ama como igualmente a Cristo Jesus, por ter-te salvo sacrificando Outro.

No mais rezarei cá por tua conversão. A propósito, sou católico; se eu primeiro te convenci a amar e portanto a confiar n'Aquele que possibilita através de Seu unigênito e único filho se te salvar, e sob hipótese não és católico, convido-te inicialmente aos milagres, ações reais do próprio Deus neste mundo, numerosamente presentes, proporcionalmente registradas, documentadas e estudadas, nela e por ela, na Santa Igreja Apostólica Romana, como fosse o magno instrumento de Deus nesta vida. 

Paz e bem. Luiz Carvalho.