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Testes

Está acabando o mês (já acabou e motivo pelo qual publico é neste mês seguinte; junho); eu não poderia deixar estar e simplesmente não publicar alguma coisa neste blog de “coisa alguma”, quando muito uma anticoisa, mas aqui vai a coisa: nem que seja uma minúcia das mais escusadas. Desnecessário decerto. Bom, a minúcia de hoje (tempo que se publica; quarto dia): testes; o formato: ensaio.

Primeiro o leitor há de se perguntar... imaginando-se diante de quem lhe escreve ao indagar-lhe: “quem ou que tipo de testes?”. A pergunta não poderia ser melhor formulada; eis a inclusividade gramatical de pessoa e objeto. Aqueles de colégio, leitor; de escola, ginásio, universidade, concursos públicos, etc., etc., testes que, em geral, decidem a aptidão intelectual por perguntas de múltipla escolha, — ou, segundo se diz, “de marcar ‘x’” —, requirindo informações sem que necessariamente seja um intelectual o seu portador. Aí está o problema correlação a medir um intelectual pelo acervo informacional falso ou verdadeiro, sugerido como ou falso ou verdadeiro: suficiência; ao passo que um intelectual é necessariamente informado e um pouquinho mais do que informado apenas, por isso que o chamamos ipso facto ‘intelectual’ e não tout court ‘erudito’. Agora, eu que não sou suficientemente bem informado, tampouco necessariamente, logo nem o "pouquinho mais" dum intelectual —, esses testes representam, ao menos para mim, e sempre o foram, uma perfídia “pedra em meu sapato” e vida, uma perfídia, leitor, em cuja topada arranca a tampa do dedão.

Por mais que tente, sempre me pego mal em todos eles; invariavelmente. Não importa a dificuldade: se para primatas, pasma-te, dar-me-ei mal, e o símio bem, encaixando a estrelinha sólida e real na estrelinha debuxada e vazia, ambas de plástico cujo material bruto é petróleo e sem muitos gases de altíssima temperatura estourando por cada hora, e eu a pensar se, porventura minha, é a estrelinha da mesa ou da mente, a que se me avoaçara há muito e agora não cansa de me fazer sobrevoar à força o mundo da lua, figuradamente. Eu não sei o que me acomete: psicose ou psicogênese?; geralmente da metade para o final, depois da famigerada primeira hora onde uns precoces se vão indo embora, terminados e reprovados, sinto-me dissipado, acompanhado por dores de cabeça e vertigem. Neurológico ou anímica? Escrevo assim para não falar que é burrice. (Mas não me eximo dela, chamo-a porém como complemento pedagógico). Ainda há minha burrice que um psiquiatra não perceberia, e logo muito menos o exame psicoanalítico; é patologia do saber, e pelo saber compete ao filósofo atestá-la, informar ao paciente e prescrever-lhe o amor, e a Deus, que pressentira o problema desde antes da concepção do cabra ou de toda a Criação, a cura milagrosa desse, graças ao Seu dom do amor, recomendado virtualmente pelo doutor.

Há ainda burrice minha que é um pouquinho, só um pouquinho velada pela minha inteligência, o bastante para me aparentar, longe dos testes, tal qual um verdadeiro sábio. Ao cabo, a não correr o risco da presunção minha: sou um noviço; um aprendiz de sábio; um palpiteiro com alguma sabedoria. Muito bem; dado ressalvas, deve ser porque me haja a falta de técnica, sua falta e quanto à conciliação consequente da sua arte com ciência, cuja ‘arte da técnica’ é propriamente dizer ‘arte’, num em outro, noutro e um. Ciência é também arte; arte é também ciência; quer dizer, deve-se haver tecnologia capaz de obrar o que pretende servir qualquer ciência que se preze: reduzir fenômenos heterogênicos à homogeneidade que os no mínimo cause naturalmente, na melhor os explique transcendentemente à causa comum; quer dizer, por isso e tantos que expressam alguns muitos indivíduos do gênero humano através da máxima: “fazer ciência é uma arte”. E não é? Você veja, só por sabê-lo, isto é, disso tudo, é porquanto que de sabedoria ou iniciado já vou experiente ou mostrando sinais do tempo; quando “longe dos testes”. Nos testes dos quais perto sou apenas um abobado, porque não me há interesse, sobretudo preparação específica para os testes em si. Antes, sem verdadeiro interesse que é genuíno e paradoxalmente desinteressado, — sem o amor cujo verdadeiro é desinteressado ao mesmo tempo que interessado pelo próprio princípio do amor —, cujo impulso à vontade científica é requerida por excelência à alma de todo e qualquer cientista sério..., veja, veja..., não dá para fazer muita coisa, ao menos no meu caso; e quando se está nesse tipo de consciência das coisas é difícil se educar reversamente, a tirar boas notas apenas por apenas, salvo quando a necessidade nos impele a tirá-las pelo bom emprego e condição financeira, porque aí dá até para tirar leite de pedra como propriamente faz a técnica e a arte, ao fazer um esforcinho.

É daí que eu concluo finalmente: tirar boas notas sem ter nenhuma sabedoria que é realmente uma arte.