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The Witcher

Um louco revolucionário que pretende transformar a humanidade em seres desenvolvidos o bastante para aguentar sem pestanejar a próxima era glacial — a Geada Braca (White Frost) —, cujo cataclisma será o fim do mundo como se conhece e entende —, através de interferências alquímicas e bastante feitiçaria.

Esse é o problemão que enfim temos de enfrentar na pele de Gerald de Rivia, enquanto lidamos com “pequenos problemas” ao longo do tortuoso caminho de difíceis e angustiantes decisões, tentando fazer o melhor para que no fim não nos tornemos mais um Jacques de Aldesberg, Grand Master da ordem dos Cavaleiros da Rosa Flamejante, e metido a salvador do mundo nessa empolgante primeira adaptação áudio-visualmente interativa, retida por um script com pequenas folgas chamado ‘escolhas’, de Sapkowski e sua bem-sucedida série de contos e romances: Wiedźmin.

Entregar ou ficar ao lado de uma bruxa usurária conivente com a maldade alheia na medida da expectação do lucro através dela, a uma multidão enfurecida pelo que supostamente os havia amaldiçoado a bruxa; ou matar algum desses que a procuraram outrora para fazer alguma maldade a outrem, e a todos os demais ingênuos levados por aqueles nesse levante inquisitório à lá ‘puritanos de tochas e forquilhas’. Eis um exemplo. Em ambos casos há morte de inocentes uma vez que as acusações são feitas nas litigas erradas, havendo idoneidade de tais e quais crimes e não de outros. Sobra a iniquidade.

No mais, Aldesberg pretende, em suas intenções, trazer a salvação à humanidade que perecerá e será extinta, porque não tem a capacidade natural de sobreviver ao que lhes espera, enquanto que tem capacidade natural suficiente para as interferências e mutações de Jacques. Mas a todo custo. Jacques pensa que pode fazer tudo desde que seja por este fim que lhe parece boníssimo, que tão logo será absolvido de suas possíveis maldades por contrapeso às benfeitorias finais e necessariamente consequentes de suas ações à mesma humanidade, pela mesma humanidade —, inocentado pela história se ainda for considerado culpado. O bruxo Geralt, no que diz respeito a Jacques, erra ao advertir que os seus fins são ruins, na verdade: maravilhosos conquanto ainda o sejam e não deixem o papel sem que sejam impugnados pelo que é e que de outro modo não poderia. A realidade: das coisas.

Uma ideia é boa em seus fins (resultados), em suas causas e em seus meios (ou preâmbulos), já o dizia em algo parecido aos meus — antes eu aos deles (palavras) — São Tomás de Aquino.

São as suas ações as causas que nos mostram o seu caráter e fazem de Jacques o vilão e apenas uma peça de peão no tabuleiro do Rei da Caçada Selvagem, cujo único objetivo constatado durante o jogo é propagar o caos e a anomia generalizada através das almas suscetíveis ao pecado, à imoralidade, à maldade, o que é evidenciado quando em um dado momento lá para o final da jogatina, se nos ralha mentindo e manipulando argutamente as palavras, jogando na nossa cara — ou na do Bruxo —, que apenas tomamos a piores entre as quais e tais decisões existentes nos momentos, e que por culpa nossa pessoas foram perseguidas, mortas, presas, assassinadas, etc., etc., tentando nos meter remorso e reato, enfim caos e anomia em nossas almas e consciência, pelo que, ipso facto, não cometemos, quando muito não sem justa-causa de ao ser atacado revidar na mesma moeda. Quisera nos desorientar.

Ao contrário de Geralt que tem as decisões decididas pelo jogador, boas, más ou “mal menor”, Aldesberg tem a mente perfeitamente alinhada para as demoníacas intenções do Rei da Caçada Selvagem desde o início, perfeitamente alinhadas com a ideia de que para construir é necessidade antes destruir, e que a virtude, o bem ou princípios morais podem ou não ser conveniente no momento, como muito podem servir de camuflagem conscientíssima, mascarando o mal e pregoando bondade. Já dizia Lenin que é impossível fazer a revolução sem cadáver; ao que se assemelha nosso Jacques ao promover uma revolta entre um grupo de elfos conhecidíssimos pela sua crueldade em busca de seu ideal que os vingará como povo oprimido pelos humanos, e a sua própria ordem da Rosa Flamejante, a tirar vantagem do conflito ou das infindáveis baixas, a maioria entre as quais de pessoas inocentes, e ganhar em troca influência e prestígio com o el-rei Foltest ao se aparecer mais tarde como solução única ao levante, jogando mais tarde essa peça régia que então lhe trazia vantagem. Se não se assemelha pelo morticínio como desculpa justificadora, então decerto à dialética comunista de como agir. Também corre em suas veias um pouco de nazismo, não enxergando espaço nesse novo mundo que construirá àqueles humanoides ou não-humanos (elfos, anões e gnomos), pretendendo assim que possível os destruir, quando no poder estiver mais consolidado, por vê-los apenas como “uma relíquia do passado”; ou seja, não são esses nem aptos para as “interferências alquímicas e bastante feitiçaria” a que sujeitará todos os seres humanos, tal como não estavam “biologicamente” aptos para a revolução do proletário todo aquele que não fosse ariano.

Se é verdade que Aldesberg é o problemão, é esse espectro de morte e apenas morte, problemão ainda mor, pois aquele quem tenta a outro pecar peca mais que o pecador, só para levá-los a seu mundo e verdadeiro, distante deste, tornando-os em seus escravos. É o que diz em dado momento a Dama do Lago, deia que se dizia capaz de enxergar o futuro ou destino do protagonista. Agora, certamente uma escravidão com gradações de importância que correspondem às tarefas em que servirão aos seus sequestradores os sequestrados, também aos mesmos agrilhoados quanto às suas capacidades em performarem essas atividades.

Mas já aí são informações demais para as que de menos encontramos no jogo a respeito da Caçada Selvagem e seu líder, o Rei da Caçada Selvagem —, cujo tema é ‘revolução’: a mudança radical e alegadamente o combate do mal com muitíssimo mais mal.