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Coqueluche

Como diria RenanPlay de um vírus que então havia contraído: “peguei, mané”. Conquanto seja meu biológico mais do que cibernético e binário, e sobretudo bacteriano e não viral.

É a causa de minhas dores de cabeça, febre alta que sana e volta, inchaço facial como se fosse sinusite, sensação de pigarra na garganta, sobretudo uma tosse estranha que não cessa a sua regularidade com que volta a me afogar desde a primeira vez que tossi sem muitas preocupações, e que se voltasse do trabalho a casa tão logo ela passaria. E eis que me encontro aqui há mais de um mês, beirando a dois.

Estive chateado e cabisbaixo. Pensara que até pudesse ser o fumo conforme me incitavam a pensar muitos, filhos de Hipócrates e mestres na arte clínica da suposição patológica todas as vezes que eram desmentidos pelas evidências dos fatos, obrigados a mudar de parecer por algo ainda mais absurdo como “alergia a amendoins”, “alergia a camarões”, a despeito da nota legislativa em que se aperfeiçoam a cada dia. Até cogitei a ficar longe do fumo para sempre; então pensei que não era sensato mudar meus hábitos pessoais só porque outros assim o queriam, — ainda não estou num completo regime autoritário, tampouco na antiga Alemanha nazista cujo führer era tanto avesso aos que situassem fora da raça ariana e dessa “perfeição proletária”, quanto ao fumo. Então parei por uma semana. Ao final, um dia depois de um quarto de lua, acordei pela manhã tossindo como um condenado da tuberculose mas sem a pena da hemoptise, e, entre os acessos de tosse, guinchando a procura do ar; respirando com dificuldade qual periodicamente já vinha.

Já aí evidenciara que não era fumo coisíssima nenhuma, e comprovei mais tarde dum exame através do sangue que me atestava reagente da coqueluche. Já antes de antes fizera uma tomografia que mostrava processo inflamatório, — motivo maior por qual me diziam ser o cigarro. Depois da evidência e da comprovação, procurei o médico Zattar pela terceira, este ao ver os meus exames me disse que era a tal coqueluche e que esta me havia feito uma “sequela no seu pulmão”.

A notícia não foi boa exceto que ao menos me servia de lenitivo à chatice com que me tentavam admoestar por conta de meu hábito de fumar, mas tão logo souberam das “evidências dos fatos” como que rápido assim mudaram de discurso; o fumo passou de causa sine qua non para “também contribui”.