Parece começar com uma queda moral de Geralt.
Em vez de se abster conforme o código dos bruxos,
escolhe matar deliberadamente outros homens numa guerra que não era a dele, uma
guerra que, segundo ele, é motivada por uma “briga entre namorados”; em último,
fê-lo ser culpado pela morte do rei Foltest.
Claro, é possível que o bruxo estivesse numa situação
delicada e de opressão, onde Foltest não é muito de aceitar ‘não’ como reposta
às suas propostas literalmente irrecusáveis, sobretudo depois que é salvo por
Geralt da lâmina de um outro bruxo da Escola da Víbora, que o pretendia
assassinar por motivos que mais tarde se nos mostrariam, através de seu líder —
Letho de Gulet —, escusos e benfeitores. O rei possivelmente se viu ameaçado diante
dessa primeira tentativa fracassada. Mas Geralt é Geralt, lendário bruxo da Escola
do Lobo, Carniceiro de Blaviken ou Lobo Branco, ambas naturezas conflituosas
entre o nobre e o grotesco coexistindo no interior do bruxo através dos fatos e
títulos lhe atribuídos posteriores aos fatos trovarosamente documentados nas baladas
do Mestre Dandelion, seu maior amigo; poderia ter recusado.
Mas a experiência do bruxo com a política é bem simples:
“eu tento ficar fora, e sempre aparece uma proposta que não se pode recusar”.
Durante os meses que esteve ao lado de Foltest, o protegendo, aceitou a
implicação de soldado além de seu guarda-costas, porque, diferentemente do merencório
rei Agamemnon de Homero, Foltest de Sapkowski e CD Projekt RED à liça se abalançava.
Se por uma síntese, diria que é um jogo político, onde
literalmente um engana o outro e vice-versa. Baixeza política. Contexto que permanece
inalterado e inalterável, ou até o clímax das coisas; onde estas, independente
do contexto que é indelével, podem ou não mudar a depender das escolhas feitas
pelo jogador, transferindo-se para o contexto pessoalíssimo de Geralt: são ajudar
Roche numa tentativa desesperada e quase suicida sem a egrégia espada do amigo
bruxo, a salvar Temeria, seu país, de sua iminente divisão entre os seus barões,
através de uma filha bastarda de sua majestade, o Rei; ou ajudar uma amiga e
amante feiticeira, Triss Merigold, a escapar das garras nilfgaardianas, numa
mais neutra decisão e apolítica. Ambas escolhas de suas sucessivas causas mais remotas
incialmente não sabidas, mas no que tange ao seu centro de resultados ambas
belas e morais: tanto ajudar uma pessoa a quem se deve literalmente a vida (a
segunda batalha entre Azar Javed e o Professor, poderia terminar fatalmente a
Geralt se não fosse por Triss e o Azur’s Shield conjurado por ela a
salvá-lo da morte certa), quanto resgatar uma criança indefesa sequestrada por
motivos torpes de Estado, embora exclusivamente para servir a outros motivos, torpes
ou não, de Estado.
Se ambas belas e morais, porém excludentes; de modo
que, escolhida por uma, se excluísse a chance de fazer a outra diametralmente situada
bondade imediata. Tout court, é sempre bom salvar alguém da injustiça e
inequidade, porque é sempre justo “dar aquilo a cada um o que é seu”. Tanto Triss
e Anais não mereciam ser aprisionadas sem justa-causa ou julgamento e
direcionadas a destinos que só satisfizessem os desejos e planos tirânicos de
seus raptores; muito menos Anais cuja idade é tão inferior quanto a de Bussy para qualquer
moralidade mais elaborada e imputação, seu irmão gêmeo acidentalmente morto na
tentativa de seu sequestro junto a ele.
Se por uma segunda síntese nada mais do que com
clareza maior reafirmasse a primeira quanto a elucidasse: um jogo onde impera à
vigarice a justificativa ‘por motivos de Estado’.