A morte não pode comportar a vida.
Depois de dizê-lo com outras
palavras às minhas ainda que não desminta, digo, mutatis mutandis,
igualmente a Sócrates de Roberto Rossellini, deste filme: Encontro Marcado. Lá
na gringa e país de origem: Meet Joe Black.
A morte assume um corpo de um
rapaz, personifica-se estranhamente com a ajuda dele, e busca viver durante o
tempo que lhe resta de férias segundo as palavras de quem escolhe para a tarefa
de ser seu guia na vida, William Parrish, o magnata Bill. Até então não contava
com a possibilidade de, com o acidente adjacente à vida, se apaixonar
justamente pela filha de William. Moça muito bonita que até ali acabara de
conhecer aquele rapaz, de quem a morte tomou o corpo por empréstimo, numa cafeteria,
pensando que seriam a mesma pessoa.
Mas este filme não é sobre
incompatibilidade, antes é sobre amor e incompatibilidade. Que é aceitar a
responsabilidade pelas ações tomadas ou intencionadas, e seus efeitos para além
de nossas sensações particulares, e não o contrário, colocando a satisfação do
desejo individual e ganancioso, a qualquer custo, acima dos demais e de suas
vontades individualmente vistas. Antes da incompatibilidade entre vida e morte,
é sobre a incompatibilidade do amor sem a caridade.
É por isso que Drew não amou.
Antes foi um oportunista que, na primeira das frustações, se vendo deixado por
Susan, eventualmente sua noiva e a consumada filha caçula de Bill, Susan, não
vacilou em desmantelar como parte de sua diretoria num complô desapercebido, a
empresa do velho, que a todo momento lhe dera boa-fé e crédito, por não mais
pertencer às suas vidas, além dos negócios típicos.
A morte amou, amou a vida na pessoa
de Susan. A morte amou a vida, e a vida a vida que a morte aparentava possuir.
A morte instou por um momento em levá-la consigo, ignorando e descumprindo o
trato que havia feito com seu pai, que o devia levar e apenas ele quando suas
férias, ali, chegassem ao fim. Percebeu a tempo que não seria amor e nem perto
do que sentia se o fizesse, muito pelo contrário, seria colocar a qualquer
custo a sua felicidade acima das demais, acima da felicidade da moça, que amava
senão a suposta vida que a morte aparentava junto do rapaz da cafeteria por
quem primeiro se apaixonara.