Tem
alguns dias que arrumei um novo emprego. Não é melhor que o último e nem pior.
É um meio termo que, paradoxalmente, associa-se mais à positividade do que com
o negativo. Graças!
Não
apanho chuva, fato; não estou sujeito a eventuais seis horas ininterruptas,
indeléveis, sob intemperes naturais, variáveis, e à má sorte de ficar doente. Já
aí é alguma coisa; e substancial. Pegar pneumonia, coqueluche e bronquiolite
tudo junto, segundo aqueles senhores médicos indecisos, não é muito agradável;
sobretudo padecer de acessos de tosse regularmente, rematadas por uma falta de
ar desesperadora.
Nem
tudo são um mar de rosas, no entanto; é um mar de tulipas, não imitem
fragrância nenhuma e são bonitas.
Claro
que oito horas de expediente é cansativo, e certo que, em dias de grande
movimento, excederá às nove com facilidade; feriados às dez. Nessas condições,
perfeito a meia-noite, acaba-se; continua na reposição dos produtos devolvidos
depois que fecharmos o caixa, ou quiçá na faxina.
Trabalho
atualmente em mercado, supermercado, um bastante conhecido da minha cidade
litorânea; inaugurado em 1974, no Pinheirinho, bairro de Curitiba, Paraná;
estendendo-se hoje para além da capital, e abrangendo inúmeras cidades do
estado do Paraná e algumas de Santa Catarina.
O
ordenado é pífio; de todos, o menor que já recebi em paralelo às horas
trabalhadas. E é pau para toda obra. O tempo de descanso é o de ajeitar as
sacolas, para que eu mesmo não venha a ficar por muito a selecionar cada sacola
e abri-las uma por uma, ao empacotar a compra de quando aparece porventura um
novo cliente. Por ventura ao Exmo. Sr. Zonta, sua clientela é frequente; a mim
talvez também seria algo boníssimo se não fosse o Estado retirar do valor
mensal que valho ao S. Zonta 4/5.
Minhas
colegas, algumas com que tive o prazer de coadjuvar, são muito atenciosas e
simpáticas; e é melhor ouvir fofoca do que baixaria de marmanjo que parece que
acabara de ingressar na puberdade. Antes fuxicos de moçoilas do que os rabos-de-saia
dos peões de fábrica. Claro que as mulheres têm lá os seus assuntos
libidinosos, voluptuosos, vezes mais até com maior frequência do que têm os
homens, porém recônditas e com elas mesmas, e nunca, à primeira vista, com quem
não se deixa levar, no mínimo, por uma conduta efeminada. Já nessa revelaram
todo os seus segredos. Fugindo à regra, pode acontecer ainda de soltarem todo o
verbo as mais sanguíneas e, naturalmente, mais faladeiras, ignorando ou se
fazendo de tontas que possa haver alguém fora do seu próprio grupo as ouvindo,
e até que bem.