Ir
aos sebos é uma aventura e ao mesmo tempo turismo premeditado. Antes dizer que
é premeditado. Afinal, que turismo não é minimamente ajustado? Mas quando o
planejado não é atingido, no caso duma ida ao sebo não achar tal e qual livro, é
chegado a hora do improviso.
“Sem
chance”, pensei.
Acabara
de encontrar o livro autobiográfico de Graciliano Ramos (Infância),
edição de 1995 da coleção Mestres da Literatura Contemporânea, editoras
Record e Altaya —, em perfeito estado. De cabo a rabo. Sequer um rabisco em seu
interior. Geralmente, em situações regulares de preservação, pode chegar a
quinze reais. Mas este...
“Caríssimo”, tão logo concluí, “certo que excederá os vinte”. “Na melhor, sairá por trinta”.
Não
tinha etiqueta de preço. Nenhuma marcação. No caixa é que obtive a felicita surpresa:
—
Cinco reais.
“Curioso”,
incrédulo, desconfiei.
Estava
resolvido. Longe de ficar apenas naquela contemplação cobiçosa, de impotência
financeira, tendo de escolher um preterindo os outros dois, ou o reverso —, pude
retornar às prateleiras com a confiança pecuniária de poder comprar mais dois
exemplares: Falenas, de Machado de Assis; e A Hora dos Ruminantes,
de José J. Veiga. Sem me preocupar do dinheiro não dar.
Não
era o que eu tinha planejado desde o início, mas encontrar Infância por
tão baixo preço me fez esquecer de José Geraldo Vieira, ao de esguelha me saciar
com outros dois bons livros.