O que é, o que é? Uma caneta
esferográfica azul entre os dedos polegar e índice da mão direita, um cigarro
Malboro Red Selection entre o fura bolo e o pai de todos da esquerda, soltando aquela
fitinha de fumaça, quebradiça, espessa e plúmbea, que vem obstruindo as narinas
e os olhos?
A cabeça recuando mais que a brasa
do cigarro, o pensamento vai ao largo; a memória bem mais do que se gostaria, distraindo,
ruminando o passado; a imaginação revirando interiormente cada pedaço. Recortes
horríveis. Fracassos, e possivelmente outros eventuais fracassos adiante, ainda
que hipotéticos, confundem-se todos, reificam-se pelo medo, se aglutinando numa
só angustia feroz cujo suplício é suprimir a produção, agrilhoar a
criatividade, e não só, como também, toda a vontade de continuar a viver, obstando
o agir. Às vezes surge este impostor, igual a uma necessidade banal; comer,
beber. Fazer neném. O que é, o que é?
O que deprime e escraviza?