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Ciência e Tecnologia

A ciência não é tudo isso. Nem tecnologia é ciência — tem a ver, eventualmente; mas não é ciência.

A ciência não estuda a realidade concreta — não poderia — em que imperam os fato concretos, repletos de nuances de causa e efeito em forma de cadeia, onde nada está separado salvo interligado; se estudasse, hipoteticamente, seria o mesmo que pegá-la toda e, nesses fatos concretos e na sua necessária totalidade, observar a realidade como quem a observa do alto. Como Deus. Uma cadeia, entretanto e por definição, não pode ser vista apartada do seu restante, se sim deixa de ser cadeia automaticamente. Não existe uma única ciência capaz disso: estudar tamanha cadeia de concretude de uma só vez; por definição, ciência é limitar-se num escopo ou ângulo abstrativo realizado pela própria ciência, sobre um determinado assunto, ou assuntos, da realidade, interrompendo momentaneamente o vivo processo encadeado sob uma hipótese inicial, para assim só estudar o que sobrar deste recorte abstrativo.

Quando dizem aqueles porta-vozes da ciência, os mesmos os quais a colocam num pedestal absoluto ou por ignorância do assunto ou birra juvenil, dizendo que a ciência não possui limites, não poderiam estar mais redondamente enganados. Ora, ciência é por definição limitação. Primeira pergunta; a que parte da realidade devemos nos atentar? Segunda; quais critérios ou metodologia usaremos para que, recortando o pedaço da realidade escolhido, possamos olhar a esmagadora quantidade fenômenos sob o aspecto desta ciência e não de outra? Terceira; terminada a base lógica (princípios) sob os quais, por certo ângulo, olharemos tais e quais pedaços recortados da realidade concreta, por quais fenômenos devemos começar nossas hipóteses, cuja síntese dialética dava ser a homogeneidade que buscamos? Ora, perguntas cuja função é reduzir o campo cognoscível, cada vez mais, para que então se possa obter algum conhecimento científico válido: logo, limitação.

Em troca da precisão, limita-se.

A ciência abstrai, corta e recorta, em busca de que nestas pequenas partes apartadas do todo alheio se possa achar um princípio unificador, constituído de fenômenos heterogênicos sob algum critério de, dado pela própria ciência, homogeneidade. Vai da heterogeneidade em busca de alguma homogeneidade; é a ciência. Limitada por definição, jamais que seria a fonte de todo o conhecimento dado como válido, igual afirma o cientificismo em uma asseveração que, por si só, não é nada cientificista. A ciência é um tipo de conhecimento muito bem-vindo, tipo de conhecimento; porém de natureza imperfeita, e que portanto não resolve todos os problemas do conhecimento humano, e essencialmente nem se propõe a isso.

Já a tecnologia não depende da ciência, porém muita ciência que existe atualmente só se pôde ir adiante mediante o avanço tecnológico; já aí é um ponto. Quem vem antes é a técnica, naturalmente; isto é, a tecnologia. Agora, é verdadeiro que toda técnica possa ser “cientificável”. Veja antes que o raciocínio da técnica é diferente do raciocínio da ciência; o técnico fica em ajuntar fenômenos heterogênicos coeridos da própria realidade concreta, e através da sua posse ajuntada resultando em mais heterogeneidade ainda, que a princípio não se tem explicação epistemológica própria, isto é, a própria ciência. É o caso de toda e qualquer invenção. Por exemplo, nos primórdios da computação não havia ciência que explicasse o computador através de um princípio científico comum a todos os elementos contidos na nova tecnologia chamada 'computador', salvo os vários pitacos necessários de outras ciências, ulteriores de outras tecnologias. Hoje já há, evidentemente; chamado ‘Ciência da Computação’. À época, a tecnologia do computador era muito recente, e só se foi explicá-la cientificamente a posteriori de sua invenção; antes, por óbvio, não poderia, pois não se havia ainda inventado o bendito do computador.